morgana

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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Chuva de verão

A filosofia me trouxe a grande capacidade de dominar grandes áreas usualmente não visitadas do universo mental, enquanto voz potente ela é um diálogo tortuoso, caminho complicado, sempre nos requisitando revisitar nossos passos e mesmo assim, nos analisa dos pés à cabeça e nos diz: você pode estar errado.

Foi um verdadeiro processo aprender à distingui-la dos processos e trabalhos de cunho magístico e ocultista, uma vez um colega chegou e me perguntou: porquê você faz filosofia? Eu respondi, brincando, "oras, é o mais próximo que eu posso chegar de Hogwarts". E o foi, mas contudo já Aristóteles distingue a magia enquanto o conhecimento que pode ser aplicável, e nisto a magia fornece o poder.

Entre o nefilibata e o neófito existem passos importantes, e isso me lembra que, na filosofia, um dos temas, se não o tema principal, é a relação mente e corpo. Para Nietzsche não há esta distinção, e o pensar é mais um modo de existir, e faz parte de um modo de ser de nosso organismo, pois em tudo permeia a vontade de vida e a vontade de potência. Nietzsche foi um iconoclasta, e foi contra todo o legado racionalista da filosofia moderna, assim como desmantelou esta dualidade doentia instaurada na antiguidade pela figura de Sócrates.

Mas é esclarecedor pensar que o problema não está na dualidade em si, mas na distinção e na instauração de valor de um sobre a outro, e na já conhecida valorização da mente contra a desvalorização do corpo.

E foi em Nietzsche que me refugiei, todos estes anos, sua sombra intelectual foi meu escudo contra o racionalismo materialista que impera no departamento de filosofia, nos corredores e nas bocas dos colegas que anseiam ao conhecimento e reconhecimento acadêmico. Dionísio contra todos, e, Apolo forçando a disciplina nas noites em claro da mente focada e do espírito desperto.      
 Mas mesmo este diálogo, esta análise infindável corresponde à um isolamento desolador no plano mental somente, e poucas voltas ao corpo, ao veículo de nossa encarnação. Não é a toa que o departamento, este departamento francês no brasil, velho demais nas possibilidades de entender o presente, não aceita a filosofia indiana, por exemplo, como filosofia. Pois oras, justamente aí há um peso das práticas corporais, do pranayama, dos asanas, esta volta ao nosso corpo. 

Pois, bem, hoje me lembro de memórias do plano astral de caminhar sob uma chuva deliciosa, branca e reluzente,  é chuva de verão, e  eu estou no interior, onde a água que cai consegue ter a pureza necessária. Caminho até um galpão aberto, até algumas mulheres que cuidavam de crianças, elas me questionam sobre a vida, eu respondo, levemente, 'acabei de me formar'.